Autor: Charles José da Silva – Psicólogo Clínico – CRP: 05/47.134

Uma prática comum em nossa sociedade atual e que faz parte da rotina de muitas pessoas é a medicalização da vida. Para cada aspecto da existência humana parece existir uma química, uma droga medicamentosa específica à solução. Questões muito importantes dessa dita prática de medicalização da vida devem ser exploradas para que possamos refletir um pouco mais sobre essa prática tão comum.

Quando sentimos uma dor de cabeça, muitos de nós fazemos uso de um analgésio comum, comprado em qualquer farmácia sem receita médica (como por exemlo a novalgina). Alguns casos, já referenciados nos anais da medicina, mostram que, muitas vezes, algo muito grave pode ocorrer com tal prática, uma vez que a dor de cabeça é apenas um sintoma, consequência de algo que não está bem no físico ou psíquico do paciente. A ingestão de analgésicos retira o sintoma, e pode encobertar algo mais grave, tal como um aneurisma cerebral, que se descoberto a tempo pode ser perfeitamente tratado. Mas inúmeros são os casos de pessoas que rompem esse aneurisma por nunca o terem descoberto (encobriam seus sintomas com analgésicos sem prescrição).

Agora pensemos que, se estamos falando dos efeitos que um simples analgésico (também uma droga) pode ter sobre a saúde de uma pessoa, imaginemos os medicamentos de venda controlada, tais como a fluoxetina, rivotril e muitos outros?

É comum em nossa sociedade a busca imediatista do prazer e do bem estar, não medindo esforços para que isso seja conquistado o mais rápido possível. Isso não é de se espantar em uma sociedade consumista e hedonista (que busca o prazer a qualquer custo).

Nesse aspecto, medicalizaram-se as crianças, por apresentarem rebeldias que, até bem pouco tempo tratávamos como “coisas de crianças” e que hoje demos o status de “doença”. Estamos tornando nossas crianças e suas infâncias doentes. Quantas delas talvez não tenham o famoso TDAH (Transtorno de Défict de Atenção e Hiperatividade)? Lembro de um caso em que uma mãe nos informou que seu filho tinha TDAH, diagnosticado e medicalizado com Ritalina por um médico de PSF (postinho de saúde), em apenas 15 minutos. Ora, qualquer médico psiquiatra e qualquer psicólogo clínico sabem que não se consegue diagnosticar o TDAH em 15 minutos de uma só sessão. Porque então isso?

Simples: queremos acalmar nossas crianças de qualquer jeito, não importa os prejuízos que isso acarretará no futuro. No caso dessa mãe, o Ritalina provocou uma reação que levou seu filho a UTI, causando danos cerebrais irreversíveis na criança.

Não tiramos o mérito e a importância desse medicamento no tratamento dessa criança, mas questionamos quem prescreve e qual deveria ser o procedimento para receitar tais drogas. Acreditamos que apenas os médicos psiquiatras e neurologistas é que deveriam por lei receitar tais drogas controladas, o que hoje, infelizmente não acontece. Esses especialistas estudaram, além do curso normal de medicina, o funcionamento cerebral e mental para poder entende-lo e assim prescrever drogas necessárias ao reequilíbrio bioquímico do cérebro.

Mas o que ainda mais nos impressiona, é o quanto a medicalização vem tomando forma e crescendo em nosso país. É comum vermos pessoas se dizendo deprimidos e que, quando questionadas sobre com quem estão se tratando, afirmam: “estou tratando com o psiquiatra Dr. Tal, que me receitou esse medicamento”. E ao perguntarmos se fazem acompanhamento psicológico, apenas dizem: “meu médico disse que não é necessário”, ou “não é preciso, pois o remédio está me fazendo muito bem”.

Para os profissionais, caros colegas da medicina psiquiátrica que assim agem, gostaríamos de lembrá-los que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que o ser humano é um ser Bio-psico-socio-espiritual, e como tal deve ser encarado pelos profissionais que atuam na área da saúde, sendo que o tratamento para diversos tipos de transtornos, mundialmente prescrito, é o tratamento multidisciplinar, onde o médico entra com a droga que diminui a intensidade dos sintomas apresentados pelo paciente e o psicólogo busca as causas emocionais que geraram o desequilíbrio bioquímico no paciente. Caso a depressão seja apenas de origem fisiológica e que não hajam causas externas, ao psicólogo cabe o papel de acompanhar esse paciente e auxiliá-lo a ter qualidade de vida, mesmo com a limitação que hora se apresenta.

Dito isso, gostaríamos que todos refletissem que interesses obscuros existem por trás da medicalização absurda de todas as emoções humanas? Será que existem interesses financeiros de empresas farmacêuticas em medicar pessoas que poderiam, sem medicamentos, aprender a lidar com suas emoções e limites?

Existe um mito e ainda esperamos a fabricação da pílula da felicidade. Mas essa pílula, caso um dia venha a ser inventada, será de um preço tão alto que a maioria das pessoas no mundo ficaria ainda mais infeliz por serem tão pobres por não poderem comprá-la.

A angústia e os sentimentos de tristeza e melancolia ainda são as melhores formas do ser humano aprender a se reconhecer e a ser realmente humano. Lidar com estes sentimentos tão originalmente humanos é o maior desafio existencial de cada pessoa, mas é justamente isso que propiciará a qualidade de vida. Aprender a conviver no mundo com problemas, desafios e limites, conseguindo lidar com eles sem perder a motivação existencial para o belo e para a felicidade.

Pensemos nisso.

Autor: Charles José da Silva – Psicólogo Clínico – CRP: 05/47.134

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