Portal Valença:

O que é depressão?

Psicólogo Charles José:

Depressão é um transtorno de humor devidamente catalogado no CID 10 (Código Internacional de Doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3% a 5% da população mundial é afetada por este transtorno, isso devido aos fatores estressantes do atual estilo de vida adotado pelo ser humano.

Podemos dizer que a depressão é um distúrbio que decorre de conflitos internos e também de uma alteração na bioquímica cerebral, sendo que os conflitos internos podem ser desencadeados ou despertados por vários fatores, podendo ser eles psíquicos, orgânicos e sociais.

Psicanaliticamente falando, a depressão está associada à frustração e a desejos não realizados, mas também pode estar associada a fatores tais como o estresse, o perfeccionismo, o medo do fracasso, desequilíbrios hormonais, perdas e lutos, morte da mãe antes da adolescência, doenças como a anemia, hipo ou hipertireoidismo, diabetes, alcoolismo, drogadição e problemas sexuais.

Se não tratada devidamente, a depressão pode ocasionar total perda de autonomia dos sujeitos afetados por ela, podendo levar a morte, seja por doenças que possuam causa relacionada a ela, tais como diabetes, hipertensão, cardiopatias, etc, ou por suicídio em casos mais graves do transtorno.

O tratamento indicado pela OMS para todos os países membros deve ser multidisciplinar, onde ao psicólogo caberá a busca pelas razões emocionais e os conflitos internos que originaram o transtorno, bem como a melhoria da qualidade de vida dos sujeitos afetados pelo transtorno através de uma ressignificação de todos os conflitos já mencionados. Por sua vez o psiquiatra deverá atuar, caso seja depressão de grau grave, com medicamentos que restabeleçam o reequilíbrio neuroquímico do cérebro.

Frisamos que nem todos os graus de depressão possuem indicação para medicação, mais que às vezes apenas o trabalho psicoterápico (com psicólogo) pode dar resultado. Via de regra o melhor é fazer uma avaliação psicológica para saber se trata-se de depressão e, caso o psicólogo ache necessário, encaminhará o paciente para um psiquiatra.

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Como identificar os primeiros sinais aparentes de depressão?

Psicólogo Charles José:

Os sintomas que mais podem ser observados pelas pessoas, sejam elas as afetadas pela depressão ou seus familiares são: humor depressivo ou irritabilidade, ansiedade e angústia; desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as coisas; diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer em atividades anteriormente consideradas agradáveis; desinteresse falta de motivação e apatia; falta de vontade e indecisão; sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo e vazio; pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa autoestima, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, ruína, fracasso, doença ou morte; a pessoa pode desejar morrer, planejar uma forma de morrer ou tentar suicídio; interpretação distorcida e negativa da realidade: tudo é visto sob a ótica depressiva, um tom “cinzento” para si, os outros e o seu mundo; dificuldade de concentração, raciocínio mais lento e esquecimento; diminuição do desempenho sexual (pode até manter atividade sexual, mas sem a conotação prazerosa habitual) e da libido; perda ou aumento do apetite e do peso; insônia (dificuldade de conciliar o sono, múltiplos despertares ou sensação de sono muito superficial), despertar matinal precoce (geralmente duas horas antes do horário habitual) ou, menos frequentemente, aumento do sono (dorme demais e mesmo assim fica com sono a maior parte do tempo); dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas médicos, como dores de barriga, má digestão, azia, diarreia, constipação, flatulência, tensão na nuca e nos ombros, dor de cabeça ou no corpo, sensação de corpo pesado ou de pressão no peito, entre outros.

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Qual a importância de cuidarmos de nossa saúde emocional?

Psicólogo Charles José:

Muitas pessoas não atribuem o devido valor ao cuidado com suas emoções e seu bem estar psíquico, sendo muitas vezes acometidas de diversos transtornos mentais e emocionais devido a este sério descaso. Visitam regularmente o dentista para ter saúde bucal, o cardiologista para o checape anual, o oftalmologista para o cuidado imprescindível de seus olhos, o clínico geral para exames de rotina, o ginecologista para o preventivo a cada seis meses, o urologista para o exame da próstata e, além disso, procuram o nutricionista para uma dieta equilibrada e saudável, bem como um professor de educação física ou uma academia para cuidar dos exercícios que manterão o corpo em forma.

Tudo isso esses cuidados são muito importantes para nossa qualidade de vida e longevidade, mas questionamos os leitores a parar e refletir: se tudo isso é importante para garantir nossa vida, o que dizer do cérebro e da mente, uma vez que são eles os principais responsáveis por gerir todos os outros sistemas de nosso organismo? Sem equilíbrio mental e emocional todo o resto deixa de fazer sentido e funcionar.

Os devidos cuidados com nossa saúde emocional são de grande importância, pois não conseguimos funcionar perfeitamente dentro de nossas ocupações e responsabilidades se não possuímos certo equilíbrio emocional para tal. Esse fato fica claro com a avalanche de pessoas que estão procurando por atendimentos psicológicos e psiquiátricos devido à depressão e outros tipos de transtornos.

Fazer uma avaliação psicológica quando sentimos que estamos em desarmonia e quando outras pessoas começam a nos sinalizar que nossos comportamentos e humor estão “diferentes” é importante para que não venhamos a desenvolver transtornos mais graves, tais como depressão, transtornos de ansiedade, síndrome do pânico, etc.

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Quanto à rotina pode ser prejudicial ao funcionamento psíquico por ser estressante e o quanto podemos tratá-la a partir de passeios e lazeres?

Psicólogo Charles José:

As leis trabalhistas no Brasil e em diversos países mais avançados na questão dos direitos dos trabalhadores, preveem um descanso semanal para todos os tipos de trabalhadores, bem como férias anuais. Ambos têm por objetivo principal o refazimento das forças físicas e psíquicas dos trabalhadores, imprescindíveis a manutenção adequada da saúde integral dos indivíduos. A falta desse descanso eleva o nível doentio de estresse e gera transtornos graves de humor, sendo o principal deles a depressão.

O descanso mental só é possível pela quebra da rotina de trabalho, bem como das obrigações diárias, realizando-se tarefas novas que motivem o sujeito à busca de momentos de alegria, descontração, aprendizado e cultura. São esses momentos de lazer que podem propiciar a quebra da rotina diário, fazendo com que, ao retornar as suas rotinas, as pessoas possam estar menos estressadas e mais aptas para exercê-las adequadamente.

Pequenos passeios pela cidade e visitas a teatros, cinemas, museus, tanto quanto assistir a programas de televisão, ler bons livros e realizar viagens a passeio podem trazer benefícios imensos para nossa qualidade de vida, pois trazem a quebra da rotina para nossas vidas e, principalmente, nos dão alegria de viver!

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No que a região, vale do café, pode oferecer de terapêutico em seus passeios?

Psicólogo Charles José:

Essa famosa região do Brasil, conhecida como Vale do Café, por oferecer diversos pontos turísticos naturais, bem como fazendas históricas que revivem os tempos áureos da produção de café em nosso país, nos proporciona belezas naturais, cultura diversificada e muito entretenimento.

A culinária dessa região, inspirada na tradicional cozinha mineira, dá um show de gastronomia a parte, fazendo que, além das vantagens já mencionadas como alimento e refazimento para a alma, possamos revigorar nossas energias e nos deliciarmos com pratos típicos. Uma região acolhedora, de povo hospitaleiro e de grande tradição histórica que nos estimula a pensar e a revisitarmos um pouco da história do ciclo do café.

Os passeios e lazeres oferecidos por essa região, rica em belezas naturais, história e cultura, oferecem as pessoas a possibilidade de fins de semana agradáveis e revigorantes, onde no contato com a natureza poderá se beneficiar psicologicamente, reequilibrando-se para a volta a rotina diária estressante. Os conhecimentos históricos oferecidos pelas fazendas do período do império trazem novos pensamentos e aumenta a reserva cognitiva dos sujeitos, possibilitando que ampliem sua visão de mundo, o que é extremamente necessário para que simbolize melhor o mundo real e a sua própria vida. Um ditado de história que muito bem se encaixa nesse aspecto é aquele que diz que “quem não conhece a história de seu povo, não compreende a própria vida e os fenômenos sociais que a cercam”.

Culturalmente a região do Vale do Café nos possibilita uma série de oportunidades de conhecer costumes e práticas sociais diferentes. Podemos encontrar desde música erudita, com orquestras sinfônicas, bandas de música tradicionais das cidades que compõem a região até a famosa dança do Jongo dos Quilombos remanescentes da época da escravidão. Em falando nisso, a região é rica de cultura afrodescendente, o que muito pode nos inspirar na busca de novos conhecimentos. Tudo isso é extremamente motivador e terapêutico para todos aqueles que possuem depressão.

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Como viagens respondem como auxiliar no processo terapêutico?

Psicólogo Charles José:

Há algum tempo atrás, tive a oportunidade de atender durante cerca de um ano e meio a uma paciente que me procurou com a queixa de depressão. Já havia sido diagnosticada por seu médico psiquiatra que a encaminhou para que pudesse começar um processo de análise comigo. A indicação médica foi precisa, o que possibilitou que em breve tempo pudéssemos observar os benefícios da terapia no quadro depressivo da paciente. A referida paciente, após a morte do marido, por não ter mais companhia diária (morava sozinha), começou a se retrair cada dia mais, evitando contato social.

O fato mais importante que determinou uma mudança significativa no quadro da paciente foi o fato de que conseguimos encontrar o que chamamos de viés saudável do paciente através de suas falas. O viés saudável é tudo aquilo que tende a gerar motivação ao paciente, pois vai de encontro com a realização de seus desejos e a satisfação de fazer aquilo que lhe dá prazer.

Nas mencionadas entrevistas, descobrimos que ela possuía um viés saudável que havia se perdido ao longo do tempo, principalmente após seu casamento. Quando adolescente a paciente adorava viajar com os seus pais, o que lhe trazia imensa alegria e motivação. Visitava museus e cidades históricas. Dedicava horas e horas na frente de pinturas apenas apreciando as pinceladas do pintor na tela.

Pronto! Descoberto esse seu grande prazer do passado, que foi sufocado e reprimido pelo marido que não gostava de passeios e viagens, bastou ser estimulado para que ela falasse sobre assunto e relembrasse dos pequenos detalhes daquela época. O desejo saiu da gaveta do inconsciente e num breve espaço de tempo ela já estava integrada totalmente a um grupo de viagens de sua cidade, também da região do Vale do Café.

Os passeios e o lazer histórico e cultural oferecidos pela região do Vale do Café fizeram a diferença, pois a cada sessão após as viagens eram visíveis os benefícios da paciente. Isso foi só se acentuando, a tal ponto que dentro de seis meses era dado alta psiquiátrica a ela, livrando-se, definitivamente, dos medicamentos de efeitos tão desagradáveis. Depois de oito meses não mais precisou de meus cuidados, pois recebeu alta do tratamento psicológico por já estar conseguindo lidar sozinha com seus próprios sentimentos e conflitos, esses últimos inerentes à condição humana.

Acredito que esse caso que expus acima, respeitando o sigilo da paciente, serve de exemplo prático dos benefícios que as viagens podem trazer ao tratamento do transtorno depressivo.

Portal Valença:

Qual o perfil de pessoa que mais precisa desse tipo de tratamento?

Psicólogo Charles José:

Não creio seja conveniente chamarmos esse tipo de auxílio de “tratamento”, uma vez que isso não é indicado para todos os casos, tal como o é o tratamento médico-psicológico. Mas podemos dizer que esse tipo de auxílio deverá ser motivado naqueles pacientes que demonstrem que seu desejo vai nesse sentido, ou seja, que gostem de viajar. Mas isso não quer dizer que todos os outros pacientes não poderão se beneficiar de passeios e viagens por regiões de belezas naturais, atrativos históricos e naturais. Tais passeios servirão, para todas as pessoas, no meu ponto de vista, como uma forma de prevenção em saúde mental e emocional, evitando que adoeçam e sejam acometidas pela depressão, que em última análise, é a perda do prazer de viver!

Autor:

Dr. Charles José da Silva – Psicólogo Clínico e Psicanalista – CRP: 05/47.134

Telefones:
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(24) 98825-8105 (oi)
(24) 2452-8184 (consultório)
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